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Comitiva leva apoio e esperança para famílias ameaçadas por grileiros na mata sul de Pernambuco

CONFLITOS AGRÁRIOS

Os conflitos por terra na zona da mata sul de Pernambuco continuam a expulsar centenas de famílias agricultoras de comunidades rurais. Distantes quilômetros da rodovia e isolados no meio da mata, onde não se tem um sinal de telefonia, as famílias vivem acuadas por grandes empresários latifundiários que agem na surdina passando cercas e mantendo a população “presa”. O objetivo é pressionar as famílias a deixarem a área onde produzem alimentos da agricultura familiar para criar gado. A situação vem sendo acompanhada de perto por movimentos sociais que lutam pelo acesso à terra como a Federação de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Fetape,) a  Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2 (CPT NE 2), além de parlamentares e secretarias do governo do Estado.

Uma das áreas de conflito é a comunidade de Batateiras, no município de Maraial. A área compreende mais de 900 hectares e pertenceu a Usina Frei Caneca. As famílias se veem acuadas por um empresário alagoano que afirma ter comprado as terras. De helicóptero, o empresário faz visitas à área acompanhado de funcionários armados.
Enquanto algumas famílias resistem no local, outras já desocuparam o lugar com medo de serem mortos. Os relatos de medo foram contados quando a comitiva formada pela Fetape, CPT NE2, e o deputado federal Carlos Veras (PT/PE), visitaram Batateiras, na última sexta-feira (14).

“É uma coisa muito grave. Nós sobrevivemos dessa terra. Todos nós somos agricultores. Estamos aqui de mãos amarradas. Não temos como sair pra rua pra vender coco, banana, laranja. Ele destruiu tudo. E agora no Dia dos Pais trouxe uma carta para a gente abandonar a casa da gente em até 30 dias. Não sabemos o que fazer”, relatou um dos agricultores.

Um outro senhor disse que comprou a propriedade do sogro, e que a esposa é natural de Batateiras. “Minha mulher é filha da terra. Eu comecei a plantar cana, mas as usinas vi que não estavam dando certo. Hoje não durmo de noite, atribulado. A gente vive trancado, ninguém entra mais”, contou.

A Fetape e a CPT têm participado de reuniões em articulação com secretárias do governo estadual e órgãos do judiciário em Pernambuco, com o intuito de resolver a situação de famílias de engenhos, que foram trabalhadores de usinas de cana-de-açúcar atualmente desativadas. “Sou agricultora como vocês, e moro numa área de assentamento em Serra Talhada. Estamos acompanhando o caso de vocês, conhecemos toda a situação dos engenhos. Nós vamos continuar essa luta com vocês para que garantam esses direitos. E em conjunto com a CPT, órgãos do governo, os advogados e parlamentares”, disse a presidenta da Fetape Cícera Nunes.



O deputado federal Carlos Veras (PT/PE) afirmou que buscará denunciar o caso em nível nacional e internacional. “Vamos levar para a Comissão de Direitos Humanos, vou tentar agenda com o prefeito. Vamos levar esse caso para nível internacional”.


Municípios de Catende e Jaqueira também enfrentam conflitos agrários – A situação se repete em outros municípios da mata sul de Pernambuco, onde usinas foram desativas. Em Jaqueira uma reunião foi realizada com a comunidade na tarde de sexta-feira (14), onde se somaram à Comitiva o arcebispo da Arquidiocese de Recife e Olinda, Dom Fernando Saburido, e o bispo auxiliar Dom Limacêdo Antonio, os deputados estaduais Doriel Barros (PT) e Isaltino Nascimento (PSB) e o prefeito de Jaqueira, Marivaldo Andrade.

A comunidade do engenho Fervedouro, em Jaqueira, e a comunidade de Pau D’Óleo, em Catende, contaram episódios de violência enfrentados para permanecer na terra, que ocorrem desde o ano de 2017, quando uma empresa se instalou no local. Tem ocorrido destruição da plantação e de cercas, uso de drones para vigiar a movimentação das famílias, entre outras violações de direitos humanos.

“Tenho medo de ir até no rio lavar uma roupa. Vivo a base de remédio controlado. Fervedouro não é mais o que era quando eu era criança. A gente não tem segurança de sair de dentro de casa para respirar um ar livre. Meu marido sai pra trabalhar, mas eu vivo com medo. Minha mãe se mudou para morar comigo por que eu não tenho mais condições de viver sozinha. É medo de ficar sozinha dentro de casa”, relatou uma jovem mulher da comunidade Fervedouro.  


O deputado Doriel Barros comunicou que nesta quarta-feira (19), haverá reunião na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE) em que o tema estará entre as pautas do dia. “Vamos encontrar a paz e a tranquilidade para todas as famílias. Em breve teremos uma saída pacífica. Vamos continuar morando na terra e produzindo”.

“A empresa chega e aterroriza porque também temos um presidente da república que é contra o trabalhador e a trabalhadora porque pra o presidente esse povo não tem direito à terra. Mas vocês são herdeiros da luta do povo do Quilombo dos Palmares, que viveu nesta região. E como eles, tenho fé que esse povo vai se levantar e vai lutar contra o inimigo”, pontuou Plácido Junior, coordenador da CPTNE2.  

Na comunidade Pau D'Óleo, em Catende, onde moram 70 famílias, as ameaças tiveram início no ano de 2018, quando a empresa agropecuária Mata Sul S.A passou a alegar ser proprietária da terra. Embora advogados das entidades do campo afirmem não haver documentos em cartório que comprovem esse fato. “Eu e meus irmãos fomos pra o lado de lá roçar o sítio, e ele chegou lá e ficou ameaçando. Disse que só vamos acreditar quando Pau D’óleo pegar fogo”, disse o agricultor.



A comunidade foi visitada nesta quarta-feira (19), por uma comitiva formada pela Fetape através da diretoria de Política Agrária, acompanhada da CPT, secretarias de Direitos Humanos e de Defesa Civil, Defensoria Pública e acompanhados de batalhão da Polícia Militar de Palmares. A visita caminhou pelas áreas de conflitos para realização de um levantamento da situação junto às famílias.

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