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Ao manter o ENEM e ensino à distância, governo federal desconsidera realidade do campo

A pandemia do coronavírus tem obrigado a população do campo e da cidade a seguir em quarentena. Desde o mês de março, as atividades escolares presenciais tiveram que ser suspensas para não pôr em risco a saúde de milhares de crianças, adolescentes e jovens em todo o país. Diante disso, o governo federal, através do Ministério da Educação (MEC), passou a orientar a realização do ensino à distância para a rede pública e privada e manteve o calendário para realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Olhando para a realidade dos estudantes do campo e da cidade, essa medida escancara as desigualdades e falta de políticas públicas de educação na zona rural. Não é de hoje que a zona rural enfrenta dificuldades como, por exemplo, o acesso a uma internet de qualidade, equipamentos como aparelhos de smartphone e computadores. Outro desafio é exigir que pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social por estarem sem emprego, com fome ou doentes tenham que exercer o papel de tutores do aprendizado.

A educação do campo conta com unidades de ensino com salas de aulas precárias em que faltam quadros, cadeiras e até professores e professoras. Por estarem em casa, as crianças também deixam de ter acesso a merenda escolar, que para muitos é o único alimento do dia.

Nas comunidades rurais a escola é um ambiente importante para o desenvolvimento das famílias. Para a professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), educadora popular da Escola Nacional de Formação da Contag (ENFOC), e membro do Fórum Nacional de Educação do Campo (FONEC), Socorro Silva, é inadmissível atribuir às famílias o papel da tutoria no ensino e de supervisão de atividades escolares.

“Não podemos atribuir a família uma responsabilidade que ela não tem que é de fazer tutoria e supervisão de atividades escolares. Primeiro por que ela não foi preparada para  isso; segundo por que o  bem maior que nós estamos  buscando é preservar a nossa saúde, a nossa vida, o nosso direito à educação, dentro de padrões básicos de qualidade. Neste sentido, está assegurado pela legislação que o ano letivo não precisa coincidir com o ano civil, principalmente em situações excepcionais”, explica Socorro Silva.

ENEM – O ministro da Educação, Abraham Weintraub, confirmou que as provas serão aplicadas nos dias 1º e 8 de novembro. Como estudantes poderão enfrentar uma prova com tantos alunos e alunas fora de sala de aula e sem acesso a computadores e smartphones para ter aulas online?

“Essa crise da pandemia do coronavírus só veio reafirmar o que já tínhamos denunciado a muito tempo, que são os estudantes das zonas rurais os que têm mais dificuldades de acesso a uma educação de qualidade, e que agora o chamado “ensino à distância “ é uma enganação, pois a maioria dos educandos e educandas do campo não têm computadores, celulares nem rede de internet, para assistir as aulas nem fazer as atividades”, afirma o vice-presidente da Fetape, Adelson Freitas, que acompanha a pasta de ações sociais na Federação.

A Fetape defende que o calendário escolar seja reorganizado para que crianças, adolescentes e jovens do campo não sejam prejudicados. A Federação e os Sindicatos de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares acreditam que adiar o ENEM é a melhor maneira de garantir que a disputa por uma vaga nas universidades públicas seja justa e igual para todos e todas.

Foto: Portal do MEC

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