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A divisão sexual do trabalho na pandemia

Com o isolamento, outra preocupação é com o aumento da violência doméstica

O novo coronavírus se espalhou pelo mundo, e junto com a doença vieram à tona comportamentos da sociedade do século 21 que ainda são vivenciados por uma grande parte da população, seja da zona urbana ou rural. O machismo de uma sociedade centrada no patriarcado, que transfere para as mulheres a responsabilidade de criar e educar filhos e filhas, cuidar de idosos e idosas doentes, cozinhar, lavar roupas, cuidar do roçado, retirar a água da cisterna, cuidar dos animais. Além disso, o isolamento social das famílias tem provocado tensões e aumentado os casos de violência doméstica.

Mas, essa mulher que tem todas essas obrigações sob sua tutela também é a mesma que hoje trabalha e estuda, assim como os homens. Por isso, é fundamental para a sociedade o debate sobre a igualdade de gênero que toca em aspectos como a divisão sexual do trabalho e o enfrentamento à violência contra a mulher. O ato de cuidar do espaço doméstico é um trabalho duro que não somente sobrecarrega o corpo físico, mas também a mente.

Para a diretora de Política para Mulheres da Fetape, Adriana do Nascimento, as mulheres rurais dividem o tempo entre a atividade no campo e o papel de cuidadora na sociedade. Dessa forma, não conseguem ter tempo para cuidarem de si mesmas. “Há uma naturalização dos afazeres domésticos na sociedade machista. O trabalho no campo é pesado, e ao final do dia temos um processo de exaustão das companheiras. O cansaço físico não permite um relaxamento mental”, relata a diretora.

Com o objetivo de conscientizar às mulheres rurais sobre a importância do autocuidado e debater a questão da divisão justa do trabalho doméstico em tempos de pandemia, a Fetape, através da diretoria de Políticas para as Mulheres, vem produzindo uma série de materiais, entre eles, programa de rádio, cards e uma cartilha “Eu cuido de Mim. Eu cuido das Outras. Eu cuido da Terra”.

                                Card de divulgação do programa de rádio

“Vamos circular uma cartilha digital sobre a importância do autocuidado das mulheres. Em primeiro lugar tem que estar nossa saúde mental, física. Precisamos nos cuidar, nos dar prioridade, principalmente nesse período de isolamento social. Onde temos fugido de um mal que não pode nos pegar fragilizadas”, afirmou Adriana.

Violência contra a mulher – Muitas vezes o conforto do lar pode virar o local mais perigoso para as mulheres. Com os companheiros mais tempo dentro de casa, devido a pandemia, as mulheres passam a ser vítimas de casos de violência. De acordo com a Secretária da Mulher do Governo de Pernambuco, Silvia Cordeiro: “As mulheres neste momento de isolamento social estão mais propensas a sofrer violência doméstica por parte dos agressores. Isso não é só uma expectativa, isso é real. Fazemos semanalmente a análise dos dados, das dificuldades, dos encaminhamentos para atender as mulheres de uma maneira mais efetiva”, explicou Silvia. A secretaria coordena a Câmara Técnica de Enfrentamento à Violência de Gênero Contra as Mulheres dentro do Pacto pela Vida do Governo Estadual.

A secretária também fez a reflexão de como a pandemia mostra como o modelo de economia liberal no mundo está fracassado. “Esse contexto de epidemia nos faz pensar que a globalização e a prioridade do sistema financeiro estão derrotados. A epidemia mostra ao mundo que precisa de Estado que cuide das pessoas e de seus cidadãos e cidadãs”, concluiu.

Os movimentos sociais e sindicais de Pernambuco têm atuado para orientar as mulheres rurais que possam viver algum tipo de violência durante a quarentena. “Mulheres rurais, urbanas, negras, periféricas, saibam que não estão sozinhas. Fiquem mais atentas ao ciclo social, aquela amiga, a comadre, a vizinha, que você sabe que já tem problemas com seus parceiros. Liguem, mandem mensagem, façam o que for possível para que outras mulheres também saibam que não estão sozinhas. Acredito que estamos criando uma enorme rede de solidariedade feminina”, avalia a coordenadora geral do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Pernambuco (MMTR/PE), Anna Paula Silva.

A coordenadora lembra que em casos de violência doméstica, para as mulheres impossibilitadas de se dirigir a uma delegacia, a Secretaria da Mulher do Governo de Pernambuco disponibiliza a Central de Teleatendimento Cidadã Pernambucana. Através do 0800 282 81 87 é possível fazer a denúncia, com ligação gratuita. O número funciona 24 horas, todos os dias da semana e feriados. Também funciona em todos os municípios do Estado os organismos de políticas públicas, com o objetivo de acolher e encaminhar as denúncias de violência contra a mulher.

Foto: imagem da Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico

 

 

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