Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência, otimizar as funcionalidades do site e obter estatísticas de visita. Saiba mais.
Notícias
‘Vaza Jato’: as relações subterrâneas da República de Curitiba
Artigo debate o escândalo da LavaJato com as denúncias divulgadas pelo The Intercept 11 de junho de 2019 12h26
Por Ceres Hadich e Diego Moreira
Da Página do MST
Foto:Divulgação
A elite do atraso: na falta de projeto, a falta de limites
Estamos enfrentando mais uma vez, na história do Brasil um escândalo que abala a república e a democracia em nosso país. Assim como em outros momentos, onde tivemos enquanto povo brasileiro, a oportunidade e a ousadia de construir um projeto de desenvolvimento nacional, vivenciamos a interrupção dessa alternativa pela ação radical, anti-povo e entreguista da elite brasileira, vinculados aos interesses do capital internacional.
Sob um cenário mundial de crise estrutural do sistema capitalista, e suas consequências cada vez mais violentas e severas às periferias do capital e à classe trabalhadora, enfrentamos no caso brasileiro a ação conjugada da aplicação de um golpe político-jurídico-midiático-institucional. Golpe articulado pelos interesses das corporações internacionais de um lado, e da conveniência da elite brasileira, de outro, que vinha de um histórico de quatro derrotas eleitorais seguidas, com ganas de se recolocar no cenário institucional e político do país.
O recente golpe no Brasil se instala em um grave e complexo contexto, na medida em que incorpora entre seus atores: a mídia tradicional, cumprindo com o papel de partido ideológico e a partidarização e parcialidade das instituições da república. Nesse sentido, as instituições cumpriram com um papel determinante, seja pela ação ‘autônoma’ e arbitrária do poder judiciário, ou mesmo pela irresponsabilidade do Congresso Nacional, que além de não garantir o papel de guardião da Constituição e democracia brasileira, ao contrário, avançou corporativamente numa ação contundente de ataque à república e às instituições, operando pautas bomba, e conduzindo de maneira leviana o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff.
E no final das contas, quem pagou o pato: as consequências para o Brasil e o povo brasileiro
O discurso moral de enfrentamento à corrupção que consagrou a operação Lava Jato, tem sido rapidamente desconstruído, especialmente a partir da divulgação dos fatos recentes, que demonstram relações ilegais e antiéticas entre instituições e servidores públicos. Longe de ser uma operação de moralização da corrupção, a Lava Jato é parte da arquitetura de um processo de interrupção do curso de um projeto de desenvolvimento nacional. Assim, além de não fazer justiça e combater a corrupção, a Lava Jato se somou aos interesses que, ao não condenar os verdadeiros corruptos e corruptores, condenaram a economia, a política e o povo brasileiro.
Entre as consequências, está a desestabilização econômica do país, permitindo um aprofundamento de uma crise sem precedentes, que tem como maiores vítimas a classe trabalhadora brasileira, seja pela radicalidade e ataques aos direitos, com a aprovação da Reforma Trabalhista, da ‘PEC dos Gastos’, ou mesmo da eminência da aprovação da Reforma da Previdência; seja pelo aumento expressivo das taxas de desemprego, ou mesmo pelo grau de vulnerabilidade social ao qual a população brasileira está exposta.
Mais que isso, a credibilidade da democracia está em cheque, deixando cada vez mais claro a ação de uma elite entreguista e descomprometida com um projeto de desenvolvimento nacional, afetando diretamente os interesses e as necessidades do povo brasileiro. A seletividade e parcialidade na tomada das decisões dentro das instituições de justiça, a partidarização no comportamento dos servidores públicos, desencadearam um largo processo de fraudes e posições que tiveram, entre outras consequências, implicações inclusive no processo das eleições presidenciais de 2018, que deve ser contestado.
Os desafios da jovem e violentada república democrática brasileira...
Há várias posições, entre intelectuais, organizações da sociedade civil e políticos, que tem repercutido desde o início do escândalo, apontando a necessidade de que sejam tomadas medidas de enfrentamento frente a essa situação de exposição e desmoralização da sociedade brasileira. Em uma república democrática consolidada, séria e comprometida com sua constituição, prezando por uma conduta ética e nacionalista, poderíamos acompanhar, por exemplo, o pensamento do jornalista e militante Breno Altman, acreditando e exigindo, de imediato que se cumpra:
1- O afastamento ou pedido de demissão dos envolvidos, entre eles o atual Ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro e o procurador do Ministério Público, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, de seus cargos, e a responsabilização criminal e administrativa dos servidores da Justiça Federal e Ministério Público envolvidos na Força Tarefa;
2- A instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mista do congresso para investigar a Operação Lava Jato;
3- A anulação das sentenças de condenação do ex presidente Lula, o colocando em justa liberdade.
Naturalmente, tais medidas não resolveriam o dano moral e histórico causado ao povo brasileiro, grande vítima dessa farsa. Ainda assim, seria de se esperar que em uma sociedade séria esses princípios fossem imediatamente aplicados, tendo em vista a moralização das instituições brasileiras e a retomada dos princípios democráticos em nosso país.
Até onde chegarão as conexões por dentro da República de Curitiba?
Nesse contexto, ficam as seguintes questões: terão as instituições brasileiras (poder judiciário, legislativo e executivo) coragem de enfrentar essa situação e trazer os esclarecimentos ao povo brasileiro, ou estarão tão corrompidas que não terão condições de fazê-lo? Quais outras relações ainda não foram reveladas e poderão estar por vir? Até onde engrenam os interesses do capital, instituições e partidos políticos? Haverá tido de fato idoneidade nos julgamentos do demais investigados, como empreiteiros e políticos tradicionais?
O fato é que somente o povo brasileiro, mobilizado nas ruas, poderá mudar os rumos e retomar o destino do país em suas mãos. Para isso, a Greve Geral do dia 14 de junho será determinante, e apontará, para além das lutas por direitos, urgente e necessária, também um horizonte fundamental na disputa de ideias e projeto em nossa sociedade.