As trabalhadoras rurais mostraram ontem ao Brasil, mais uma vez, a força que vem do campo. Depois de a Marcha das Margaridas reafirmar, pelas ruas de Brasília, a luta por um desenvolvimento sustentável, pautado na democracia, justiça, autonomia , igualdade e liberdade, representantes de todas as regiões, juntamente com integrantes da coordenação participaram, no Senado, de uma Sessão Solene do Congresso Nacional em Homenagem à mobilização.
A representante da Coordenação da Marcha, Carmem Foro, ao começar sua fala, já deixou claro que mais que um diálogo, as Margaridas exigem do Congresso o retorno às suas pautas, mas também manifestam a rejeição a projetos que são contrários aos interesses das trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, a exemplo do Projeto 4330 da Terceirização.
Ela também denunciou a imposição e as manobras do Congresso Nacional que desconsideram o amplo processo de mobilização popular por reforma do sistema político e aprovou uma contra reforma, negando o direito de ampliação da participação politica das mulheres no parlamento e mantendo o financiamento privado das campanhas.
Carmem pediu a rejeição do Projeto de Lei do Senado (PLS) 131/2015, do senador José Serra (PSDB-SP), que altera a Lei 12.351/2010, retirando a obrigatoriedade da participação da Petrobrás na Exploração dos Campos de Petróleo do Pré-Sal. “O petróleo é nosso, e temos que cuidar dessa riqueza do nosso País”, defendeu.
Esse PLS também foi criticado pela senadora Fátima Bezerra (PT/RN). Segundo ela, “colocar-se contra o projeto de Serra significa cuidar do presente e do futuro das crianças, porque "os recursos do pré-sal que devem ir para a educação e são fundamentais, principalmente neste momento em que nós temos o desafio de realizar as metas do novo Plano Nacional de Educação".
Foi levantado também que um Congresso que tem um percentual tão grande de ruralistas não pode ser o mesmo Congresso que faz desapropriações para fins sociais da reforma agrária.” Nós achamos isso absolutamente grave, porque o Congresso vai legislar em torno do seu interesse de manter grandes áreas e não avançar nas desapropriações nesse país”, analisou Carmem.
Ela deixou claro que as Margaridas não concordam com o último texto da proposta de regulamentar a PEC do trabalho escravo, por ela eliminar o conceito de trabalho degradante e trabalho exaustivo. “Se não houver nenhum parâmetro no Brasil, continuaremos tendo o trabalho escravo e isso nos envergonha profundamente”, lamentou.
Autor da proposição da Sessão, o Deputado Odorico Monteiro (PT/CE) também trouxe essa discussão à tona, dizendo que essaproposta, que vem sendo defendida por setores mais conservadores, significa “um enorme retrocesso para o país.”
Após destacar diversas conquistas das trabalhadoras rurais, mesmo reconhecendo os desafios existentes, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) questionou a existência de uma pauta tão regressiva no sentido de desconstruir tantos avanços. “Incomoda muito que o comando desse projeto tenha sido iniciado por um operário e agora por uma mulher”, explicou, acrescentando: “mas todas vocês precisam ter lado nesse processo, porque certamente a violação e a agressão à democracia fará de nós um exército de Margaridas. Nós não aceitaremos interrupção desse projeto”.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que presidiu a Sessão, disse que essa homenagem dos parlamentares à Marcha das Margaridas ocorre num momento muito importante. “Votaremos hoje (ontem) à tarde uma emenda constitucional que muda o tipo de cota. Hoje, temos cotas de candidaturas, mas queremos que haja cotas de cadeiras”.
Também integrante da coordenação da Marcha, a diretora da UJS – União da Juventude Socialista, Maria das Neves, lembrou que durante a Ditadura Militar as mulheres não podiam falar e que tiveram seus corpos e suas histórias desaparecidas. “Nós não queremos que nunca mais esse episódio volte a acontecer no Brasil, porque não há nada mais precioso que a liberdade, a democracia. E a Marcha das Margaridas vem para isso, para dizer que tem lado”, proclamou.